Para Refletir

Há momentos na vida difíceis de serem suportados, em que a única vontade que sentimos é de chorar, pois parecem arruinar para sempre nossa vida. Quando um destes momentos chegar, lembre-se que ainda não chegou o fim, que a sua história ainda não acabou e que ainda há esperança. Corrie Ten Boom disse: "não há abismo tão profundo que o amor de Deus não seja ainda mais profundo". Este amor você encontra aqui, um lugar de esperança, consolo e paz, e aqui encontrará a oportunidade de conhecer a verdadeira vida, uma vida abundante com Cristo.

sábado, 17 de setembro de 2016

ESTUDO DO LIVRO DE OBADIAS: II – A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA E A PERMANENTE MÁGOA DE UM POVO

10  Por causa da violência feita a teu irmão Jacó, cobrir-te-á a vergonha, e serás exterminado para sempre.
11  No dia em que, estando tu presente, estranhos lhe levaram os bens, e estrangeiros lhe entraram pelas portas e deitaram sortes sobre Jerusalém, tu mesmo eras um deles.
12  Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão, o dia da sua calamidade; nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem ter falado de boca cheia, no dia da angústia;
13  não devias ter entrado pela porta do meu povo, no dia da sua calamidade; tu não devias ter olhado com prazer para o seu mal, no dia da sua calamidade; nem ter lançado mão nos seus bens, no dia da sua calamidade;
14  não devias ter parado nas encruzilhadas, para exterminares os que escapassem; nem ter entregado os que lhe restassem, no dia da angústia (Ob 1.10-14).
Introdução
Na lição anterior estudamos sobre os aspectos do livro de Obadias, sobre o povo de Edom, a quem este livro é escrito, e sobre o povo de Judá. Na lição de hoje vamos ter que voltar ao livro de Gênesis porque, neste livro, está a história e a consequência de um grande erro de uma família, ou seja, o desdobramento de um grande equívoco entre Isaque e Rebeca.
O povo edomita e o povo israelita vieram de um mesmo ventre, de um mesmo ancestral, ou seja, de Isaque e Rebeca. Embora venham de uma mesma família, a convivência dos irmãos gêmeos, Esaú e Jacó, por inabilidade de Isaque e Rebeca, se transforma em um grande ódio, entre dois irmãos, que vem a desaguar em um grande ódio entre duas nações e encontramos o ápice deste ódio no livro de Obadias. Vamos ver como tudo começou:
19  São estas as gerações de Isaque, filho de Abraão. Abraão gerou a Isaque;
20  era Isaque de quarenta anos, quando tomou por esposa a Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padã-Arã, e irmã de Labão, o arameu.
21  Isaque orou ao SENHOR por sua mulher, porque ela era estéril; e o SENHOR lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu.
22  Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR.
23  Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço.
24  Cumpridos os dias para que desse à luz, eis que se achavam gêmeos no seu ventre.
25  Saiu o primeiro, ruivo, todo revestido de pêlo; por isso, lhe chamaram Esaú.
26  Depois, nasceu o irmão; segurava com a mão o calcanhar de Esaú; por isso, lhe chamaram Jacó. Era Isaque de sessenta anos, quando Rebeca lhos deu à luz.
27  Cresceram os meninos. Esaú saiu perito caçador, homem do campo; Jacó, porém, homem pacato, habitava em tendas.
28  Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó (Gn 25.19-28).
Havia a predileção dos pais por um de seus filhos, ou seja, cada um amava mais a um de seus filhos. Quando estes dois filhos cresceram, aconteceu algo que demonstrava que havia rivalidade entre os irmãos, provocada, talvez, pela predileção dos pais:
29  Tinha Jacó feito um cozinhado, quando, esmorecido, veio do campo Esaú
30  e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom.
31  Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura.
32  Ele respondeu: Estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura?
33  Então, disse Jacó: Jura-me primeiro. Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó.
34  Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, desprezou Esaú o seu direito de primogenitura (Gn 29,29-34).
Que irmão! Recusar um prato de comida ao próprio irmão! Conceder um prato de comida por um valor tão alto! Jacó aproveitou o momento de fragilidade para tirar proveito do próprio irmão. Que relacionamento familiar havia nessa história? Para entendermos o livro de Obadias, precisamos entender a história detalhada da família de Isaque, filho de Abraão. Vamos ver com detalhes alguns aspectos desta história:
1 – A LUTA ENTRE OS IRMÃOS DESDE O VENTRE DA MÃE
22  Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR (Gn 25.22).
A luta entre os Edomitas e Israelitas começou no ventre de Rebeca e lá foi o primeiro campo de batalha entre essas duas nações. Foi lá que começou a surgir um fato que foi culminando cada vez mais em uma inimizade eterna. Este conflito, que começou entre dois irmãos, mais tarde se estendeu entre duas nações. Essa semente minúscula de inimizade vai tornar-se uma grande selva, em um conflito que perdurou por dois mil anos de guerras constantes.
2 – A ESCOLHA SOBERANA E PROPOSITAL DE DEUS
23  Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço (Gn 25-23).
Aprouve a Deus, por Sua Soberania e Graça, sem nenhum mérito pessoal de Jacó, escolhê-lo para ser a origem de onde surgiria o Messias. Paulo fala em Romanos:
11  E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama),
12  já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço.
13  Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú (Rm 9.11-13).
Nenhum deles havia nascido ainda, nenhum deles tinha ainda praticado o bem e nem o mal quando a eleição da graça de Deus prevaleceu sobre Jacó. Isso transmite para nós uma lição direta a respeito da doutrina da eleição divina. Não havia mérito nenhum em cada um dos escolhidos de Deus. Ela aconteceu tão somente pela graça de Deus. Se você é um escolhido de Deus não se vanglorie disso, mas glorifique a Deus, pois a Ele pertence toda glória. Paulo nos confirma isso quando fala a respeito de nossa salvação:
8  Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
não de obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8,9).
3 – A PREDILEÇÃO DOS PAIS EM RELAÇÃO AOS FILHOS
Isaque e Rebeca se conhecem e se casam. Um amor lindo que serve de analogia até hoje. Entretanto, ficam sem filhos por vinte anos. Isaque casou-se com 40 anos e orou vinte anos por Rebeca para ter filhos. Quando os filhos nasceram cometeram o grave erro de terem um filho em detrimento do outro.
28  Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó (Gn 25.28).
Mas por que será que agiram assim? O que pode estar por trás disso tudo? Não podemos ter a certeza, mas talvez a resposta esteja em episódio muito triste na vida deste casal, em que Isaque comete um grave erro contra sua mulher, Rebeca, quando mentiu ao povo de uma cidade dizendo que ela era sua irmã, e por causa disso o rei daquele povo levou Rebeca ao seu harém, pois diz a Bíblia que ela era muito formosa, e se não fosse pela intervenção de Deus, ela teria sido abusada sexualmente pelo rei. Ele faz isso em nome do amor, mas em um gesto egoísta, pois sua função era proteger sua mulher e, se preciso for morrer por sua mulher.
4 – OS ERROS COMETIDOS PELOS PAIS
Por causa da predileção, os pais cometem graves erros que vão acirrar brutalmente a rivalidade entre os irmãos. Veja o erro de Isaque:
1  Tendo-se envelhecido Isaque e já não podendo ver, porque os olhos se lhe enfraqueciam, chamou a Esaú, seu filho mais velho, e lhe disse: Meu filho! Respondeu ele: Aqui estou!
2  Disse-lhe o pai: Estou velho e não sei o dia da minha morte.
3  Agora, pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, sai ao campo, e apanha para mim alguma caça,
4  e faze-me uma comida saborosa, como eu aprecio, e traze-ma, para que eu coma e te abençoe antes que eu morra (Gn 27.1-4).
Deus não havia dito a eles que escolhera o mais novo? Não havia dito a eles que o mais velho serviria ao mais novo? Isaque conhecia os planos de Deus e não poderia ir contra a Sua vontade. O que Rebeca fez? Errou também pelo outro lado:
5  Rebeca esteve escutando enquanto Isaque falava com Esaú, seu filho. E foi-se Esaú ao campo para apanhar a caça e trazê-la.
6  Então, disse Rebeca a Jacó, seu filho: Ouvi teu pai falar com Esaú, teu irmão, assim:
7  Traze caça e faze-me uma comida saborosa, para que eu coma e te abençoe diante do SENHOR, antes que eu morra.
8  Agora, pois, meu filho, atende às minhas palavras com que te ordeno.
9  Vai ao rebanho e traze-me dois bons cabritos; deles farei uma saborosa comida para teu pai, como ele aprecia;
10  levá-la-ás a teu pai, para que a coma e te abençoe, antes que morra (Gn 27.5-10).
Os dois cometeram graves erros por causa da predileção que tinham por um filho. Veja a execução dos erros:
11  Disse Jacó a Rebeca, sua mãe: Esaú, meu irmão, é homem cabeludo, e eu, homem liso.
12  Dar-se-á o caso de meu pai me apalpar, e passarei a seus olhos por zombador; assim, trarei sobre mim maldição e não bênção.
13  Respondeu-lhe a mãe: Caia sobre mim essa maldição, meu filho; atende somente o que eu te digo, vai e traze-mos.
14  Ele foi, tomou-os e os trouxe a sua mãe, que fez uma saborosa comida, como o pai dele apreciava.
15  Depois, tomou Rebeca a melhor roupa de Esaú, seu filho mais velho, roupa que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho mais novo.
16  Com a pele dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço.
17  Então, entregou a Jacó, seu filho, a comida saborosa e o pão que havia preparado.
18  Jacó foi a seu pai e disse: Meu pai! Ele respondeu: Fala! Quem és tu, meu filho?
19  Respondeu Jacó a seu pai: Sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me ordenaste. Levanta-te, pois, assenta-te e come da minha caça, para que me abençoes.
20  Disse Isaque a seu filho: Como é isso que a pudeste achar tão depressa, meu filho? Ele respondeu: Porque o SENHOR, teu Deus, a mandou ao meu encontro.
21  Então, disse Isaque a Jacó: Chega-te aqui, para que eu te apalpe, meu filho, e veja se és meu filho Esaú ou não.
22  Jacó chegou-se a Isaque, seu pai, que o apalpou e disse: A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú.
23  E não o reconheceu, porque as mãos, com efeito, estavam peludas como as de seu irmão Esaú. E o abençoou.
24  E lhe disse: És meu filho Esaú mesmo? Ele respondeu: Eu sou.
25  Então, disse: Chega isso para perto de mim, para que eu coma da caça de meu filho; para que eu te abençoe. Chegou-lho, e ele comeu; trouxe-lhe também vinho, e ele bebeu.
26  Então, lhe disse Isaque, seu pai: Chega-te e dá-me um beijo, meu filho.
27  Ele se chegou e o beijou. Então, o pai aspirou o cheiro da roupa dele, e o abençoou, e disse: Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o SENHOR abençoou;
28  Deus te dê do orvalho do céu, e da exuberância da terra, e fartura de trigo e de mosto.
29  Sirvam-te povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o que te abençoar (Gn 27.11-29).
Mal acabara Isaque de abençoar a Jacó, chega Esaú:
30  Mal acabara Isaque de abençoar a Jacó, tendo este saído da presença de Isaque, seu pai, chega Esaú, seu irmão, da sua caçada.
31  E fez também ele uma comida saborosa, a trouxe a seu pai e lhe disse: Levanta-te, meu pai, e come da caça de teu filho, para que me abençoes.
32  Perguntou-lhe Isaque, seu pai: Quem és tu? Sou Esaú, teu filho, o teu primogênito, respondeu.
33  Então, estremeceu Isaque de violenta comoção e disse: Quem é, pois, aquele que apanhou a caça e ma trouxe? Eu comi de tudo, antes que viesses, e o abençoei, e ele será abençoado.
34  Como ouvisse Esaú tais palavras de seu pai, bradou com profundo amargor e lhe disse: Abençoa-me também a mim, meu pai!
35  Respondeu-lhe o pai: Veio teu irmão astuciosamente e tomou a tua bênção.
36  Disse Esaú: Não é com razão que se chama ele Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora usurpa a bênção que era minha. Disse ainda: Não reservaste, pois, bênção nenhuma para mim?
37  Então, respondeu Isaque a Esaú: Eis que o constituí em teu senhor, e todos os seus irmãos lhe dei por servos; de trigo e de mosto o apercebi; que me será dado fazer-te agora, meu filho?
38  Disse Esaú a seu pai: Acaso, tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me, também a mim, meu pai. E, levantando Esaú a voz, chorou.
39  Então, lhe respondeu Isaque, seu pai: Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação, e sem orvalho que cai do alto.
40  Viverás da tua espada e servirás a teu irmão; quando, porém, te libertares, sacudirás o seu jugo da tua cerviz (Gn 29.30-40).
Por essa razão que, 1500 anos depois, por causa de uma mágoa gerada entre os irmãos, acontece uma avalanche de tragédias, pois um problema foi criado e não foi devidamente resolvido. E qual foi o resultado?
5 – A CONSEQUÊNCIA DOS ERROS DOS PAIS
Os erros dos pais culminaram em graves consequências na vida de seus filhos e de suas descendências.
A – O Surgimento de um Ódio Muito Violento
41  Passou Esaú a odiar a Jacó por causa da bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e disse consigo: Vêm próximos os dias de luto por meu pai; então, matarei a Jacó, meu irmão (Gn 27.41).
E Rebeca precisa tirar urgente Jacó da presença de Esaú.
42  Chegaram aos ouvidos de Rebeca estas palavras de Esaú, seu filho mais velho; ela, pois, mandou chamar a Jacó, seu filho mais moço, e lhe disse: Eis que Esaú, teu irmão, se consola a teu respeito, resolvendo matar-te.
43  Agora, pois, meu filho, ouve o que te digo: retira-te para a casa de Labão, meu irmão, em Harã;
44  fica com ele alguns dias, até que passe o furor de teu irmão,
45  e cesse o seu rancor contra ti, e se esqueça do que lhe fizeste. Então, providenciarei e te farei regressar de lá. Por que hei de eu perder os meus dois filhos num só dia (Gn 27.42-45)?
Mas Jacó fica por lá vinte anos e quando volta Rebeca já estava morta. Tudo isso gerou mais tensão, mais solidão, mais angústia, mais separação entre o casal e entre os filhos.
B – Uma Hostilidade que Nunca Cessou
A Bíblia diz que depois de 20 anos, mesmo com muito medo da promessa de Esaú de matá-lo, Jacó volta e, no vau de Jaboque, luta com Deus, que transforma sua vida e patrocina um encontro entre os dois irmãos. Eles se perdoam, se abraçam, se beijam, mas não vivem juntos. Esaú vai para o monte Seir, às margens do Mar Vermelho e Jacó para Siquém, em Canaã. Mas esse ódio começa a se perpetuar, pois o povo de Jacó vai para o Egito, passa lá 430 anos, Deus os liberta e, quando estão voltando pelo deserto, precisam passar pelo território de Edom. Deus disse para Moisés que ele deveria tratar os edomitas como irmãos, pois eram mesmo.
7  Não aborrecerás o edomita, pois é teu irmão; nem aborrecerás o egípcio, pois estrangeiro foste na sua terra (Dt 23.7).
14  Enviou Moisés, de Cades, mensageiros ao rei de Edom, a dizer-lhe: Assim diz teu irmão Israel: Bem sabes todo o trabalho que nos tem sobrevindo;
15  como nossos pais desceram ao Egito, e nós no Egito habitamos muito tempo, e como os egípcios nos maltrataram, a nós e a nossos pais;
16  e clamamos ao SENHOR, e ele ouviu a nossa voz, e mandou o Anjo, e nos tirou do Egito. E eis que estamos em Cades, cidade nos confins do teu país.
17  Deixa-nos passar pela tua terra; não o faremos pelo campo, nem pelas vinhas, nem beberemos a água dos poços; iremos pela estrada real; não nos desviaremos para a direita nem para a esquerda, até que passemos pelo teu país.
18  Porém Edom lhe disse: Não passarás por mim, para que não saia eu de espada ao teu encontro.
19  Então, os filhos de Israel lhe disseram: Subiremos pelo caminho trilhado, e, se eu e o meu gado bebermos das tuas águas, pagarei o preço delas; outra coisa não desejo senão passar a pé.
20  Porém ele disse: Não passarás. E saiu-lhe Edom ao encontro, com muita gente e com mão forte.
21  Assim recusou Edom deixar passar a Israel pelo seu país; pelo que Israel se desviou dele (Nm 20.14-21).
Os edomitas trataram a Israel com hostilidades, levando-os a dar uma grande caminhada, com muitas dificuldades. Mas não ficou somente nisso, pois essa mágoa voltou à tona várias vezes. Na época de Davi, como um guerreiro e como um estrategista militar, resolveu lutar contra os edomitas, não somente por ódio racial, mas por tomar posse de uma região estratégica, pois onde ficava os edomitas era uma região comercial por onde passava o comércio entre o Norte e o Sul.
14  Pôs guarnições em Edom, em todo o Edom pôs guarnições, e todos os edomitas ficaram por servos de Davi; e o SENHOR dava vitórias a Davi, por onde quer que ia (2 Sm 8.14).
Depois os edomitas invadiram Israel no reinado do rei Jeorão.
20  Nos dias de Jeorão, se revoltaram os edomitas contra o poder de Judá e constituíram o seu próprio rei.
21  Pelo que Jeorão passou a Zair, e todos os carros, com ele; ele se levantou de noite e feriu os edomitas que o cercavam e os capitães dos carros; o povo de Jeorão, porém, fugiu para as suas tendas.
22  Assim se rebelou Edom para livrar-se do poder de Judá até ao dia de hoje; ao mesmo tempo, se rebelou também Libna (2 Rs 8.20-22).
Amós denuncia os pecados de Edom severamente, dizendo que seu ódio contra seu irmão nunca cessou.
11  Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Edom e por quatro, não sustarei o castigo, porque perseguiu o seu irmão à espada e baniu toda a misericórdia; e a sua ira não cessou de despedaçar, e reteve a sua indignação para sempre (Am 1.11).
O ódio agora vai culminar na queda de Jerusalém em 586 a.C., quando Nabucodonosor entrincheira Jerusalém e Edom fica do lado de Babilônia, como parceira dela, para ajudar a atacar a Judá ao invés de ser solidária com ela. Os que tentam fugir, os edomitas vão lá e matam e os que tentam encontrar refúgio, eles entregam para os soldados da Babilônia. É isso que vimos lá no salmo 137:
1  Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião.
2  Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas,
3  pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
4  Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha?
5  Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita.
6  Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria.
Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos.
8  Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste.
9  Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra (Sl 137.1-9).
A inimizade se agrava a partir daí. Logo depois de Judá, Edom é dominada e saqueada. Eles vão se refugiar na região sul da Palestina, perto do deserto do Neguebe. Por isso que, quando Neemias volta para restaurar Jerusalém, vamos encontrar os edomitas na figura dos arábios, porque foram os árabes que conquistaram Edom e eles acabaram se misturando, recebendo naquela região um outro nome, o nome de Iduméia, de onde vem a palavra idumeu.
No século segundo a.C., João Hircano (que governou a Judéia entre 135 e 104 a.C.), domina os idumeus, força-os a se circuncidarem, tornando-os, pelo menos externamente, judeus. Por volta do ano 63 a.C., os romanos conquistam a Palestina e a partir daí uma família iduméia vai assumir o comando sobre a Palestina com Herodes, o grande, sendo coroado rei dos judeus. Herodes era um descendente direto de Esaú, um edomita.
C – Uma Inimizade que se Estende Até a Última Geração Edomita
O Novo Testamento abre com um rei idumita reinando sobre os judeus. Qual a atitude dele? Mata as crianças para tentar matar a Jesus. Quando Herodes, o grande, morre, Herodes Antipas reina em seu lugar na Galiléia, o mesmo que mandou matar João Batista e quis impedir Jesus de pregar naquela região.
31  Naquela mesma hora, alguns fariseus vieram para dizer-lhe: Retira-te e vai-te daqui, porque Herodes quer matar-te.
32  Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei (Lc 13.31-32).
Foi esse o mesmo Herodes para quem Pilatos mandou Jesus e ele escarneceu de Jesus porque queria que Jesus fizesse milagres em sua presença. O terceiro Herodes foi o rei Herodes Agripa I, que perseguiu a igreja primitiva e mandou matar o apóstolo Tiago, irmão de João, e mandou prender Pedro, para matá-lo depois da Páscoa, e, ao ser ovacionado por uma multidão, não dando glória a Deus, morreu comido de vermes. O último personagem dessa família, o rei Herodes Agripa II, que era casado com sua própria irmã Berenice e, em uma visita a Festo, é colocado em sua presença o apóstolo Paulo.
13  Passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesaréia a fim de saudar a Festo.
22  Então, Agripa disse a Festo: Eu também gostaria de ouvir este homem. Amanhã, respondeu ele, o ouvirás.
23  De fato, no dia seguinte, vindo Agripa e Berenice, com grande pompa, tendo eles entrado na audiência juntamente com oficiais superiores e homens eminentes da cidade, Paulo foi trazido por ordem de Festo.
24  Então, disse Festo: Rei Agripa e todos vós que estais presentes conosco, vedes este homem, por causa de quem toda a multidão dos judeus recorreu a mim tanto em Jerusalém como aqui, clamando que não convinha que ele vivesse mais.
A seguir, Agripa, dirigindo-se a Paulo, disse: É permitido que uses da palavra em tua defesa. Então, Paulo, estendendo a mão, passou a defender-se nestes termos:
2  Tenho-me por feliz, ó rei Agripa, pelo privilégio de, hoje, na tua presença, poder produzir a minha defesa de todas as acusações feitas contra mim pelos judeus;
Acreditas, ó rei Agripa, nos profetas? Bem sei que acreditas.
28  Então, Agripa se dirigiu a Paulo e disse: Por pouco me persuades a me fazer cristão.
29  Paulo respondeu: Assim Deus permitisse que, por pouco ou por muito, não apenas tu, ó rei, porém todos os que hoje me ouvem se tornassem tais qual eu sou, exceto estas cadeias.
30  A essa altura, levantou-se o rei, e também o governador, e Berenice, bem como os que estavam assentados com eles (At 25.13, 22-24; 26.1-2, 27-30).
Quando chega o ano 70 d.C., Tito Vespasiano invade Jerusalém, arrasa a cidade, dispersa os judeus e na destruição de Jerusalém os idumitas são eliminados da história. Passaram dois mil anos sem que essa mágoa fosse resolvida. O livro de Obadias revela para nós as consequências dessa história.
Conclusão
Não subestime um pequeno problema, ele pode se tornar um grande mal. Isaque amava Esaú e Rebeca tinha a predileção por Jacó. Dessa maneira criaram os filhos não como amigos, mas como rivais, não como parceiros, mas como opositores, e essa atitude irracional dos dois irmãos vai se consolidar no ódio entre duas nações.
Quando deixamos nossas vaidades pessoais nos dominar, uma grande bênção pode se transformar em uma grande tragédia. Quando há desajustes no casamento, pode haver a concentração em um filho ou em outro para tentar suprir alguma deficiência. Então, quando os filhos deveriam ser motivos de alegrias e prazeres, tornam-se motivo de grande sofrimento.
Não tente mudar os desígnios de Deus e nem os manipular. Isaque, que amava mais a Esaú, tenta alterar o projeto de Deus. De que maneira? Isaque era o pai e tinha a competência de dar a bênção. Mesmo sabendo o que Deus havia dito, de que o mais velho serviria o mais moço, ele tenta alterar o projeto de Deus de uma maneira insensata. O que Rebeca faz? Articula um plano com Jacó e age errado também, tentando dar uma mãozinha para Deus, pensando que Ele não estaria a par dos fatos. Os dois deixaram de confiar em Deus. Os dois se insurgiram contra os propósitos de Deus. Não precisamos alterar os planos de Deus e nem dar uma mãozinha para Ele, pois Deus é Sábio, Soberano e Competente para dirigir a nossa história. Que Deus nos abençoe a refletirmos sobre estes erros e a evitá-los e corrigi-los em nossa vida. Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
Rev. Hernandes Dias Lopes: Mensagens sobre o livro de Obadias.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

ESTUDO DO LIVRO DE OBADIAS: I – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LIVRO DE OBADIAS

1  Visão de Obadias. Assim diz o SENHOR Deus a respeito de Edom: Temos ouvido as novas do SENHOR, e às nações foi enviado um mensageiro que disse: Levantai-vos, e levantemo-nos contra Edom, para a guerra.
2  Eis que te fiz pequeno entre as nações; tu és mui desprezado.
3  A soberba do teu coração te enganou, ó tu que habitas nas fendas das rochas, na tua alta morada, e dizes no teu coração: Quem me deitará por terra?
4  Se te remontares como águia e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te derribarei, diz o SENHOR.
5  Se viessem a ti ladrões ou roubadores de noite (como estás destruído!), não furtariam só o que lhes bastasse? Se a ti viessem os vindimadores, não deixariam pelo menos alguns cachos?
6  Como foram rebuscados os bens de Esaú! Como foram esquadrinhados os seus tesouros escondidos!
7  Todos os teus aliados te levaram para fora dos teus limites; os que gozam da tua paz te enganaram, prevaleceram contra ti; os que comem o teu pão puseram armadilhas para teus pés; não há em Edom entendimento.
8  Não acontecerá, naquele dia, diz o SENHOR, que farei perecer os sábios de Edom e o entendimento do monte de Esaú?
9  Os teus valentes, ó Temã, estarão atemorizados, para que, do monte de Esaú, seja cada um exterminado pela matança.
10  Por causa da violência feita a teu irmão Jacó, cobrir-te-á a vergonha, e serás exterminado para sempre.
11  No dia em que, estando tu presente, estranhos lhe levaram os bens, e estrangeiros lhe entraram pelas portas e deitaram sortes sobre Jerusalém, tu mesmo eras um deles.
12  Mas tu não devias ter olhado com prazer para o dia de teu irmão, o dia da sua calamidade; nem ter-te alegrado sobre os filhos de Judá, no dia da sua ruína; nem ter falado de boca cheia, no dia da angústia;
13  não devias ter entrado pela porta do meu povo, no dia da sua calamidade; tu não devias ter olhado com prazer para o seu mal, no dia da sua calamidade; nem ter lançado mão nos seus bens, no dia da sua calamidade;
14  não devias ter parado nas encruzilhadas, para exterminares os que escapassem; nem ter entregado os que lhe restassem, no dia da angústia.
15  Porque o Dia do SENHOR está prestes a vir sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu malfeito tornará sobre a tua cabeça.
16  Porque, como bebestes no meu santo monte, assim beberão, de contínuo, todas as nações; beberão, sorverão e serão como se nunca tivessem sido.
17  Mas, no monte Sião, haverá livramento; o monte será santo; e os da casa de Jacó possuirão as suas herdades.
18  A casa de Jacó será fogo, e a casa de José, chama, e a casa de Esaú, restolho; aqueles incendiarão a este e o consumirão; e ninguém mais restará da casa de Esaú, porque o SENHOR o falou.
19  Os de Neguebe possuirão o monte de Esaú, e os da planície, aos filisteus; possuirão também os campos de Efraim e os campos de Samaria; e Benjamim possuirá a Gileade.
20  Os cativos do exército dos filhos de Israel possuirão os cananeus até Sarepta, e os cativos de Jerusalém, que estão em Sefarade, possuirão as cidades do Sul.
21  Salvadores hão de subir ao monte Sião, para julgarem o monte de Esaú; e o reino será do SENHOR (Ob 1.1-21).
Introdução
Embora esse livro seja pequeno e até desconhecido, não significa que ele seja menos importante. Ele tem mensagens soleníssimas, lições grandiosas, alertas solenes que precisam ser ouvidas e juízos severos que precisam ser evitados. O livro de Obadias tem uma mensagem urgente e oportuna para a família, para a Igreja, para a nação, ou seja, para todos nós. Portanto, desprezar ou menosprezar o estudo deste livro pode nos impedir de evitar pecados muito desastrosos para nossas vidas.
O livro é dirigido para a nação edomita, descendentes de Esaú, por isso, no estudo deste livro, vamos remeter-nos ao livro de Gênesis, na história de Isaque e Rebeca e de seus filhos gêmeos, Esaú e Jacó. Estudaremos também a mágoa e o ressentimento guardados pelos edomitas em relação à nação de Israel e as consequências de todos esses ressentimentos. Analisaremos, ainda, em nosso estudo, o juízo de Deus contra as nações e veremos como esse pequeno livro nos conduz para o último dia, o Dia do Senhor.
1 – ASPECTOS DO LIVRO DE OBADIAS
A primeira coisa a fazer é tomar conhecimento de alguns aspectos do livro, principalmente históricos, para podermos entender alguns detalhes importantes do livro. É uma parte que pode parecer chata, mas necessário.
A – Sobre o Autor
Obadias significa “servo do Senhor” ou “adorador de Jeová”. Obadias é um nome muito comum no Velho Testamento, chegando a ter doze homens com esse nome, mas não dá para dizer qual deles é o autor desse livro.
Não sabemos nada sobre a família de Obadias, nada sobre o pai dele, nada sobre a cidade dele e também nada sobre a ocupação dele. A única coisa que sabemos dele é que ele era um servo do Senhor, um adorador de Jeová, conforme o significado do seu nome. Possivelmente era filho de uma família piedosa.
B – Sobre o Livro
Obadias, contendo apenas um capítulo com 21 versículos, é o menor livro do Velho Testamento. É o quarto dos profetas menores e suas profecias são dirigidas a uma nação estrangeira: à nação de Edom (três, dos doze profetas menores são dirigidos a nações estrangeiras: Obadias para Edom, Naum para Assíria e Habacuque para Babilônia).
A data do livro é a maior dúvida existente sobre ele. O assunto ainda está em aberto, pois não há consenso entre os estudiosos da Bíblia sobre quando ele foi escrito, porque existiram muitas invasões contra Judá e em todas elas os edomitas estavam do lado de seus invasores. Alguns eruditos entendem que ele foi escrito por volta do ano de 885 a.C. Sendo assim, o ataque aqui descrito não seria o de Babilônia, mas outro, bem antes dele. Já Calvino acredita que este ataque é o de Babilônia, que ocorreu por volta de 586 a.C., por ser uma invasão mais forte e mais abrangente e quando Jerusalém foi totalmente arrasada. Veja como Neemias descreve a situação de Jerusalém depois deste ataque:
2  Veio Hanani, um de meus irmãos, com alguns de Judá; então, lhes perguntei pelos judeus que escaparam e que não foram levados para o exílio e acerca de Jerusalém.
3  Disseram-me: Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas (Ne 1.2-3).
Veja que ninguém escapou dos malefícios desta invasão. Os que foram levados eram escravos e os que ficaram estavam em grande miséria. A situação da cidade de Jerusalém era de desolação. Jeremias também fala da situação de Jerusalém depois de seu cativeiro:
1  Como se escureceu o ouro! Como se mudou o ouro refinado! Como estão espalhadas as pedras do santuário pelas esquinas de todas as ruas!
2  Os nobres filhos de Sião, comparáveis a puro ouro, como são agora reputados por objetos de barro, obra das mãos de oleiro!
3  Até os chacais dão o peito, dão de mamar a seus filhos; mas a filha do meu povo tornou-se cruel como os avestruzes no deserto.
4  A língua da criança que mama fica pegada, pela sede, ao céu da boca; os meninos pedem pão, e ninguém há que lho dê.
5  Os que se alimentavam de comidas finas desfalecem nas ruas; os que se criaram entre escarlata se apegam aos monturos.
6  Porque maior é a maldade da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, que foi subvertida como num momento, sem o emprego de mãos nenhumas.
7  Os seus príncipes eram mais alvos do que a neve, mais brancos do que o leite; eram mais ruivos de corpo do que os corais e tinham a formosura da safira.
8  Mas, agora, escureceu-se-lhes o aspecto mais do que a fuligem; não são conhecidos nas ruas; a sua pele se lhes pegou aos ossos, secou-se como uma madeira.
9  Mais felizes foram as vítimas da espada do que as vítimas da fome; porque estas se definham atingidas mortalmente pela falta do produto dos campos.
10  As mãos das mulheres outrora compassivas cozeram seus próprios filhos; estes lhes serviram de alimento na destruição da filha do meu povo.
11  Deu o SENHOR cumprimento à sua indignação, derramou o ardor da sua ira; acendeu fogo em Sião, que consumiu os seus fundamentos (Lm 4.1-11).
Um quadro dramático. Quando Nabucodonosor invade a cidade, ela já não oferece resistência nenhuma contra seus invasores. Matou quem ele quis, destruiu o templo e os muros, incendiou a cidade, levou muitos cativos e os que ficaram são descritos acima por Neemias em extrema miséria. Com a ajuda do Salmo 137, a melhor opção de datar o livro é no período da invasão babilônica.
1  Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião.
2  Nos salgueiros que lá havia, pendurávamos as nossas harpas,
3  pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.
4  Como, porém, haveríamos de entoar o canto do SENHOR em terra estranha?
5  Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita.
6  Apegue-se-me a língua ao paladar, se me não lembrar de ti, se não preferir eu Jerusalém à minha maior alegria.
Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, do dia de Jerusalém, pois diziam: Arrasai, arrasai-a, até aos fundamentos.
8  Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der o pago do mal que nos fizeste.
9  Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra )Sl 137.1-9).
Este Salmo nos fornece elementos suficientes para datarmos este livro por volta de 586 a.C.
2 – ASPECTOS SOBRE A HISTÓRIA DE EDOM
Como o livro é uma profecia contra Edom, faz-se necessário ver alguns aspectos deste povo, seu surgimento e sua história:
·         Edom é um dos nomes de Esaú e significa vermelho em lembrança de haver vendido o seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas.
·         Edom é também chamado de monte Seir.
·         Edom ocupava uma região montanhosa e extremamente acidentada com uma extensão de 185 quilômetros. A altura do monte Seir eleva-se a 1155 metros.
·         A capital, no tempo da monarquia hebraica, chamava-se Sela (no hebraico quer dizer pedra) e, no período da dominação grega, chamou-se Petra (no grego quer dizer pedra).
·         Sua capital, Petra, estava edificada entre as rochas, o que lhes dava segurança por parecer impossível de ser invadida, até porque, para se chegar até ela, havia somente um caminho em que cabia somente dois cavaleiros emparelhados.
·         Estava em uma rota comercial entre o Norte e o Sul, motivo pelo qual havia muitas riquezas na cidade e muito conhecimento.
·         No período da dominação grega, Edom chamava-se Iduméia.
3 – ASPECTOS SOBRE A HISTÓRIA DE JUDÁ
Estudamos a história do povo edomita, descendentes de Esaú. Mas, os acontecimentos registrados em Obadias nos fazem refletir também sobre a história de um outro povo, o povo judeu, descendentes de Jacó. Obadias registra a aplicação do juízo de Deus a esse povo rebelde. Vamos relembrar sua história.
Jacó, fugindo de Esaú, vai morar com Labão, irmão de Rebeca. Acostumado a trapacear, encontra pela primeira vez alguém que lhe passe a perna, pois trabalha sete anos por Raquel e Labão lhe entrega, astuciosamente, a Lia, irmã de Raquel. Jacó, então, trabalha mais sete anos por Raquel. Jacó tem doze filhos e resolve voltar. Faz as pazes com Esaú e vai morar em Canaã. Por causa de José vai embora para o Egito com toda a família e é bem recebido por Faraó, e ganha uma terra para morar. A família cresce, o Faraó morre e seu sucessor escraviza o povo de Israel que permanecem no Egito por 400 anos. Deus intervém e liberta de lá o Seu povo. Vagueiam 40 anos no deserto, recebem a Lei e tomam posse da terra prometida, começando a teocracia com os juízes. O povo pede um rei e começa a monarquia e o povo divide-se em dois reinos: Judá (Sul) e Israel (Norte). Israel vai para o exílio e não retorna mais, depois é a vez de Judá, que é quando chegamos à narração de Obadias. Vamos ver porque o povo foi exilado:
A – Os Pecados de Judá Contra Deus
4  Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Judá e por quatro, não sustarei o castigo, porque rejeitaram a lei do SENHOR e não guardaram os seus estatutos; antes, as suas próprias mentiras os enganaram, e após elas andaram seus pais.
5  Por isso, meterei fogo a Judá, fogo que consumirá os castelos de Jerusalém (Am 2.4-5).
Judá era a região menor, mais árida e mais pobre da Palestina. Sua extensão não passava de noventa quilômetros do Norte ao Sul e de cinquenta do Leste ao Oeste. Mas a sua importância moral e religiosa para o mundo é sem par. O reino de Judá era o centro religioso de Israel, pois lá estava Jerusalém, o templo, os sacerdotes, o culto e a lei.  O pecado de Judá denunciado pelo profeta Amós não é um pecado moral, mas espiritual. As outras nações foram julgadas por seus crimes contra os homens; mas Judá pelos seus insultos contra Deus. Isso nos ensina que é um terrível engano pensar que a graça de Deus nos isenta de responsabilidade moral. Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis. E no que consistiu o pecado de Judá? Em primeiro lugar, eles rejeitaram a Lei de Deus.
4  Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Judá e por quatro, não sustarei o castigo, porque rejeitaram a lei do SENHOR e não guardaram os seus estatutos; antes, as suas próprias mentiras os enganaram, e após elas andaram seus pais.
Judá seria julgada pela sua infidelidade ao Senhor. O ato horrendo de Judá foi ter abandonado a Lei do Senhor, a qual a tornava distinta entre as nações.
5  Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir.
6  Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.
7  Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?
8  E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?
9  Tão-somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos (Dt 4.5-9).
A Lei do Senhor contém princípios éticos, morais e religiosos, vindos de Deus aos homens, princípios esses que o povo não podia rejeitar. A palavra "rejeitar" aponta para um estado mental que primeiro despreza e, então, dispensa. A rejeição é um ato deliberado da vontade, é um abandono consciente, um insulto à bondade de Deus.  Eles rejeitaram a lei recusando-se a ensinar, a ouvir e a obedecer aos mandamentos de Deus. Eles rejeitaram a lei perseguindo os profetas verdadeiros e correndo atrás dos profetas falsos. Eles rejeitaram a lei de Deus ao viverem na prática de pecados que a lei condena.
Ainda hoje a Igreja tem abandonado a Lei do Senhor. Atualmente, vários são os desvios que desencaminham a Igreja, tais como o liberalismo, o misticismo, o ecumenismo, o legalismo e a ortodoxia morta. Precisamos urgentemente voltarmos para as Escrituras Sagradas. Em segundo lugar, eles não guardaram os seus estatutos.
4  Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Judá e por quatro, não sustarei o castigo, porque rejeitaram a lei do SENHOR e não guardaram os seus estatutos; antes, as suas próprias mentiras os enganaram, e após elas andaram seus pais.
A palavra "estatuto" vem de um verbo que significa "esculpir, gravar". Seu significado, no contexto, fica bem ilustrado na referência às "tábuas" dos mandamentos escritos na rocha pelo dedo de Deus. O "estatuto" é símbolo da Lei de Deus no seu aspecto de ser a verdade imutável e imperecível. Não guardar os estatutos de Deus significa que os judeus viveram à margem e ao arredio dos ensinamentos recebidos. Eles sacudiram de sobre si o jugo de Deus. Eles se cansaram de ser o povo da aliança.
Quando a lei foi dada por intermédio de Moisés, o povo, solenemente, assumiu o compromisso com Deus de obedecer esta lei, não somente eles, mas suas gerações vindouras. Esta obediência tornaria o povo judeu testemunhas de Deus perante as nações, pois Deus estaria presente com o Seu povo, o que tornaria o Senhor distinto dos deuses dos povos, os quais nada podiam fazer por eles, tendo boca não falam, tendo ouvidos não ouvem e tendo mãos nada podem fazer.
B – As Razões da Queda de Judá
O que trouxe o juízo de Deus contra Judá? Os pecados de Judá foram as razões de sua queda. Em primeiro lugar, a teologia errada.
4  Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Judá e por quatro, não sustarei o castigo, porque rejeitaram a lei do SENHOR e não guardaram os seus estatutos; antes, as suas próprias mentiras os enganaram, e após elas andaram seus pais.
Eles foram enganados pelas suas próprias mentiras. Com a palavra "mentiras", o profeta indica idolatria, pois pode significar os ensinos dos profetas falsos e aceitos avidamente pelo povo. A rejeição da Lei de Deus não acontece num vácuo nem fica sem graves consequências. Normalmente, isso é resultado de um engano religioso. Antes das pessoas rejeitarem a verdadeira doutrina, elas são seduzidas pela heresia. Eles possuíam a Lei do Senhor, mas preferiram as tradições dos homens.
É verdade também que o engano é resultado do abandono da verdade. O primeiro ataque do diabo à raça humana foi sugestioná-la a abandonar a verdade. Ao longo dos séculos a Igreja vem sofrendo a mesma sedução. E geração após geração vem cedendo aos sutis ataques e se capitulando às perniciosas heresias. Os filhos canonizam os erros de seus pais. A tradição dos homens desemboca em mentira, enquanto a verdade de Deus protege a Igreja da mentira. A Igreja é chamada para proclamar a verdade ao mesmo tempo em que a verdade a protege. Em segundo lugar, a ética errada.
4  Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Judá e por quatro, não sustarei o castigo, porque rejeitaram a lei do SENHOR e não guardaram os seus estatutos; antes, as suas próprias mentiras os enganaram, e após elas andaram seus pais.
Eles andaram segundo essa mentira. A teologia é a mãe da ética. A ética é filha da teologia. Assim como o homem pensa, assim ele é. A idolatria conduz à imoralidade. O ensino errado deságua em vida errada. O abandono da Lei e dos Estatutos empurrou o povo para o terreno escorregadio da heresia, e esta o induziu a andar em pecado. Não há santidade fora da verdade.
C – O Juízo de Deus Contra Judá
Em primeiro lugar, podemos ver que Deus é o agente desse juízo.
5  Por isso, meterei fogo a Judá, fogo que consumirá os castelos de Jerusalém.
É Deus quem traz o mal contra Judá, é Deus quem põe fogo em Jerusalém. É Deus quem traz a Babilônia contra Jerusalém. É Deus quem entrega os vasos do templo nas mãos de Nabucodonosor. Em segundo lugar, o juízo de Deus é devastador.
5  Por isso, meterei fogo a Judá, fogo que consumirá os castelos de Jerusalém.
Deus jamais deixa o pecado impune. O salário do pecado é a morte, a consequência do pecado é a morte. Judá foi devastada pelo inimigo e devorada pelo fogo.
D – O Pecado do Povo de Deus é Mais Severamente Condenado
As nações são punidas pelos pecados cometidos contra as leis da natureza, da consciência e do sentimento natural, conforme nos diz Paulo em Romanos:
12  Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados.
13  Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.
14  Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
15  Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,
16  no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho (Rm 2.12-16).
Mas Judá e Israel são castigados por pecarem contra a vontade revelada de Deus. Se Deus julga a iniquidade das nações por terem pecado contra a luz interior de seus corações, muito mais julgará Deus o seu povo pelo pecado de rejeitar a Sua Santa Palavra.
O pecado do povo de Deus é mais grave, mais hipócrita e mais danoso que o pecado dos ímpios. É mais grave porque peca contra um conhecimento maior, porque a lei de Deus foi revelada a eles; é mais hipócrita porque o povo condena o pecado nos outros e não vê o seu próprio pecado; é mais danoso porque quando o povo de Deus peca provoca mais escândalo. O juízo de Deus começa pela sua casa, mostrando que maiores privilégios implicam em maiores responsabilidades. Quanto mais íntima é a relação com Deus, mais grave é o pecado e mais sério o juízo de Deus.
Conclusão
O livro de Obadias nos remete a trajetória de dois povos, Edom e Judá. Nos remete a história de uma família que nunca aprendeu a perdoar e de um povo que desprezou ao seu Deus, ao verdadeiro e único Deus. Edom sempre viveu em rivalidade com Judá e colheu os frutos de todo o seu ódio. Judá desprezou a Lei de Deus e pagou um alto preço pela sua desobediência. Que Deus nos abençoe a nunca alimentar nenhum ódio e a nenhuma mágoa em nosso coração. Que Deus nos abençoe a sermos fiéis a Ele e que nunca venhamos a desprezar este Deus que tanto nos ama e que já provou o seu grande amor por nós ao dar o Seu Único Filho por sacrifício pelos nossos pecados. Amém!
Luiz Lobianco
luizlobianco@hotmail.com
Bibliografia principal:
Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. Sociedade Bíblica do Brasil.
Rev. Hernandes Dias Lopes: Mensagens sobre o livro de Obadias.